Uma das obras de Philip Roth criticada pela comunidade judaica

Marcio Saraiva

“Ainda tenho pela frente minha cota diária de leitura. Sem ler, não sou ninguém”, diz E.I. Lonoff no desconcertante “Diário de uma Ilusão” (“The Ghost Writer”, 1979), publicado no Brasil pela Francisco Alves em 1980.

Este romance de Philip Roth (1933-2018) nos apresenta Nathan Zuckerman (alter-ego de Roth), um jovem escritor inseguro, neto de judeus poloneses que imigraram para os EUA no início do século 20. Ele busca validação de sua arte no renomado escritor E.I. Lonoff.

Nathan, de 23 anos, visita a casa de Lonoff em Berkshire. Busca um mestre que confirme seu talento e o oriente na carreira literária. Na casa de Lonoff, casado com Hope, Nathan conhece Amy Bellette, uma jovem bela, inteligente e estranha. Nathan suspeita que ela é Anne Frank, que teria sobrevivido ao Holocausto e vive anonimamente nos EUA.

Roth explora temas como desejos e frustrações, a vida enfadonha de um escritor famoso e neurótico obsessivo, e a dolorosa ruptura edipiana de Zuckerman com as expectativas dos pais judeus. Ele aborda a difícil demarcação entre realidade histórica e ficção, além do problema da identidade judaica em uma sociedade ocidental, pluralista e secular.

A obra causou desconforto em setores da comunidade judaica, encontrando defensores ardorosos e críticos raivosos. Acusaram Roth de distorcer a imagem dos judeus e de ser desrespeitoso ao usar ícones como Anne Frank e narrativas do Holocausto. Alguns afirmaram que Roth, sendo judeu-americano, desprestigiou a tradição judaica.

Os desejos incestuosos (Lonoff-Amy), a triangulação edipiana com Hope e os devaneios de Zuckerman apimentam a história. Quer gostem ou não, Roth é um dos mais importantes nomes da literatura estadunidense do século 20.

Vale a leitura, mesmo pagando o preço da desilusão.

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Marcio Sales Saraiva – Medium

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