Por Manoel Fernandes Neto
Imagem divulgação Prime Vídeo.
De que são feitas as histórias de amor? Do que são feitos os clichês? Duas perguntas muito bem respondidas pela série do Prime “Amor moderno Amsterdã”, de 2022. A produção é a versão holandesa da série original americana “Amor Moderno”, baseada na coluna do mesmo nome do New York Times, um conteúdo semanal assinado por vários autores. Já virou livro e um podcast, além da série. Os textos — diz o NYT — são sobre “relacionamentos, sentimentos, traições e revelações”.
Como o amor, a série transcende as rotulações. Nessa primeira temporada foram produzidas seis histórias; desafios e situações que evitam o senso comum, tantas vezes apresentados em clichês incessantes, principalmente quando se trata de produções para o streaming, algoritmicamente padronizadas para elevar a audiência. O que vemos em “Amor moderno – Amsterdã” são histórias contadas sem excessos, sem fins rocambolescos ou nauseantes, ou com uma pretensa obrigatoriedade de plot twist. A simplicidade é o tom: são variados tipos de famílias, amizades, impasses; o amor em sua melhor forma, imprevisível, multifacetado, aberto e sem cordão umbilical com um mundo ultrapassado. A voz é da universalidade.
Resumir sem dar spoiler tem que ser feito de forma competente diante da qualidade da série. Os episódios navegam pelo drama bem-humorado, confirmando que não existem outras maneiras de encarar as ocorrências da vida. O formato é o da crônica literária, com muita leveza, ou podemos usar outros adjetivos que também o traduzem: inusitados, imprevistos, variados e diversos.
Nesse contexto desassombrado, conhecemos uma instrutora de pole dance que é surpreendida por um falso amor; tão decepcionante, mas nem por isso coberto de frustração; surgem as dúvidas, a autocobrança; o recomeço com apoio de amigos. Errar é sublime.
Em outro episódio, conhecemos uma advogada de personalidade marcante que cuida do marido paralisado parcialmente pela afasia. Ele lhe apresenta uma proposta que imagina que servirá para ela “preencher” o que ele chama de solidão. O engano é permitido.
Mas também temos a história de uma família em que um pai de mais de 60 anos, às voltas com uma nova amiga, reúne os filhos homens adultos no Natal em que, inevitável, é discutido (e sentido) a falta da mãe falecida, e os caminhos para amenizar essa ausência diante de uma nova companheira.
Temos também a história de um homem que viveu um furacão, uma catástrofe natural, em que parte da família é perdida. A lembrança e a dor permanecem mesmo depois de um tempo e de novas filhas e esposa. A dor, a compreensão e a superação merecem nova chance.
Ou ainda um episódio em que uma jovem e sua namorada escritora discutem a relação e diversas possibilidades, algumas inusitadas, para conquistarem uma gestação; uma história permeada pela busca incessante de um novo enredo para o próprio livro.
A primeira temporada termina com a história de um casal — formado por duas pessoas com orientações afetivas diferentes — que se amam e discutem com os próprios filhos essa relação, nem sempre pacífica, mas compreensiva e amorosa diante da diversidade.
Dois aspectos ainda se destacam na série “Amor moderno – Amsterdã”. O primeiro é a própria cidade em que se desenvolvem as tramas, Amsterdam, capital humanista da Holanda, um país surpreendente em relação à sua forma de vida e respeito ao outro.
Histórias de amor acontecem em todos os lugares do mundo. Em Amsterdam, com seus cenários, elas intensificam uma atmosfera plural surpreendente para histórias de amor. Minha filha viajante, Manu Fernandes, que já esteve na cidade algumas vezes e escreve sobre ela, resume esse olhar captado pela série em um de seus textos:
“Amsterdam tem um ritmo que me encanta, aquela mistura de liberdade com leveza, onde tudo parece funcionar no seu próprio tempo. As bicicletas passando pelos canais, o som da água, o cheiro de café e uma sensação de que ninguém está com pressa de ser mais do que é. É uma cidade que me faz desacelerar sem precisar parar, que equilibra o caos e o silêncio, o clássico e o moderno. Em Amsterdam, eu sinto que a vida é simples, mas cheia de propósito. É uma cidade que respira a liberdade, entre o ser e o viver!”
O outro aspecto sobre a série é que suas abordagens dispensam pirotecnias, a nos mostrar que o amor — e os textos, livros, filmes e séries — pode sim surgir em breves cenas que nos arrebatam pela singeleza: um casal se redescobrindo em encontros por jardins, calçadas ou balsas; o desabafo de um pai com as filhas pequenas; os olhares de idosos apaixonados; duas famílias se unindo em torno de uma nova relação; um recém-nascido de colo em colo entre amigos; um encontro contagiante em um festival de pole dance; um jantar ao ar livre que reúne dois casais e seus filhos…
Por tudo isso, não há clichê que resista!
Links das séries:
Prime Video: Amor Moderno Amsterdã
Musica tema da série:
;

