Rita Foelker
Houve um tempo em que a gente é que entrava nas redes sociais. Hoje, ando pensando que algumas características das redes sociais é que estão invadindo as nossas vidas reais. E de um jeito muito ruim!
Isso tem a ver com o oceano de imagens que nos chegam e pelas quais acabamos passando rápido – até porque ninguém tem tempo pra realmente parar e olhar… e ver. Para ler e compreender, refletindo.
Clicamos num “curtir”, o que não exige muito pensamento ou compromisso. Escrevemos opiniões, muitas vezes, sem lembrar da pessoa que está do outro lado, lendo, tendo sua vida comentada ou atacada.
Isso reforça um hábito, cada vez mais comum, de querer tudo apenas na superficialidade e sem comprometimento. De buscar apenas o que é mais fácil, rápido e atraente: uma imagem que chame a atenção pelas cores e aspectos gráficos; um corpo esculpido em academia ou cirurgia. Uma frase curta. E estamos fazendo isto, não só com as postagens do Face, mas também com as pessoas ao nosso redor.
Vemos um número crescente de homens e mulheres à procura de laços superficiais, calcados em aparência ou interesse imediato, que apaziguem necessidades físicas ou emocionais. São receosos de se relacionarem num nível mais pleno, num nível que nos traz informações e descobertas mais efetivas sobre o outro, criando aquela química que, segundo Carl Jung, transforma ambos os envolvidos. Esse tal relacionamento que nos mobiliza, que nos envia para dentro de nós mesmos, para contatar expectativas, para revisitar forças de uma infância tranquila ou problemática, desvendar desejos, sentimentos de aceitação e carinho, rejeição e carência, que atuam em nosso modo de pensar, agir e enxergar a nós mesmos.
O que você está disposto a ceder, em nome de algo assim? No que concordaria em se modificar? Do que abriria mão, por uma história duradoura e verdadeira?
Você ajudaria esse alguém especial a realizar um projeto comum? Você cuidaria das suas necessidades emocionais e físicas, sem se sentir explorado ou usado? Você encontraria tempo para fazer aquelas coisas que são tão especiais para o outro?
O amor não é um jogo, como os filmes e novelas podem dar a entender. Amor é um estado de entrega a um sentimento transcendente – isto é, que nos transporta para além de nós mesmos. E não dá pra sonhar com uma relação forte e profunda, se você não estiver disposto a se entregar e a acolher plenamente o outro. Então a pergunta chave é: quando pensa em estar com alguém, quando olha pessoas que lhe interessam, o que você realmente procura?
Publicado originalmente:
https://vidasinteligentes.com/2016/04/11/amor-e-profundidade-de-entrega/