Por Manu Fernandes 

Dublin é uma cidade de contrastes. É possível caminhar por ruas medievais, por prédios de tijolos escuros e, de repente, cruzar com um café moderno cheio de notebooks e sotaques do mundo todo. Capital da Irlanda, a cidade mistura tradição e movimento, pubs históricos e inovação, o verde dos parques e o cinza insistente do céu. É pequena o suficiente para ser percorrida a pé, mas grande no impacto que causa em quem decide viver por ali, mesmo que apenas por um tempo.

Foi o meu caso. Em 2018, desembarquei nesse frio úmido e desafiador sem saber que estava começando a maior transformação da minha vida.

Chorar nas despedidas já virou tradição. Mas dessa vez o choro veio diferente quando me despedi do país depois de vivenciar uma semana durante o meu mochilão; foi um choro mais silencioso, mais profundo, mais meu.

Não chorei só pela cidade em si. Chorei pelo que ela representa dentro de mim. Pela casa que encontrei longe de casa. Pela mulher que me tornei desde que cheguei aqui.

A Irlanda me deu muito. Muito mesmo. Hoje, a maioria das pessoas do meu convívio eu ganhei por conta dela. Mas hoje escrevo para aquelas que ainda vivem na Ilha Esmeralda. As amigas que foram farol num dos momentos mais difíceis da minha vida. Mulheres que me acolheram com tanto carinho, que me fizeram rir quando eu só queria chorar, que dividiram teto, mesa, dúvida, vinho, medo e esperança. E o mais bonito: elas ainda são assim, do jeitinho que sempre foram. Mesmo depois do tempo e da distância, ainda me oferecem tudo o que podem para me ver feliz.

Durante esses dias juntas, senti de novo esse cuidado. Essa presença inteira. Elas se esforçaram para me acompanhar, para me ver sorrir, para fazer caber em pouco tempo tanto afeto. E eu chorei. De saudade antecipada. De gratidão. Por elas. Por nós.

Mas chorei também pela Irlanda. Por esse país frio, verde e meio mal-humorado, que virou palco de um dos capítulos mais loucos da minha vida. Muito do que sou e do que construí pessoal e profissionalmente, nasceu lá. É impossível olhar pra trás e não reconhecer a importância dessa ilha na minha história.

Que bom que, em 2018, eu embarquei pro frio do — me perdoem a palavra —, caralho. Porque foi esse movimento que me fez mais feliz de ser quem sou hoje.

Tem lugares que a gente escolhe visitar. Outros que escolhem morar na gente.

Ir para um destino novo é sempre um risco. Pode ser difícil, pode dar medo, pode não sair como o esperado. Mas e se for exatamente ali que você vai encontrar uma parte de você que nem sabia que existia?

Um intercâmbio é muito mais do que estudar fora. É um mergulho em novas culturas, novas amizades, novos jeitos de viver e principalmente, em si mesmo. É sobre aprender a se virar, se reinventar, se emocionar. Sobre construir raízes onde antes só haviam mapas. Então, se tiver a chance: vá. Se tiver medo: vá com ele mesmo. Porque tem cidades que viram casas.

E tem viagens que mudam a vida inteira.

MOMENTOS:

 

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