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Inovação não se resume a Startups, diz Ilisangela Mais

O termo inovação é muito mais do que um daqueles modismos de marketing utilizado por muitos para parecer jovial.  O assunto é muito mais complexo e profundo.

Para revelar de fato o que significa, além das jovens startups baseadas em tecnologia, a Revista Nice conversou com uma profissional que está mergulhada há mais de uma década no assunto: Ilisangela Mais (Fotos nessa matéria).

Mestre em Administração pela FURB, Ilisangela atuou como professora universitária por 10 anos em disciplinas sobre empreendedorismo e inovação.Tem atuado profissionalmente na estruturação da inovação e captação de recursos desde 2007.

É fundadora da empresa de consultoria PRANA Inovação e Recursos, especializada na captação de recursos para empresas com projetos de inovação e na utilização de benefícios e incentivos (estaduais e municipais), por meio da estruturação de projetos de inovação e investimento para empresas de todos os setores.

Para a ilisangela, é comum as pessoas fazerem confusão na definição do que é inovação para empresas.

“É comum as pessoas pensarem que inovação é algo relacionado com tecnologia e startups, mas eu sempre faço questão de destacar: ‘inovação não pressupõe luzinhas piscando’. O que quero dizer com isso? Que inovar pode estar relacionado a implantar novos modelos de negócios, processos produtivos, estrutura organizacional, relacionamento com o mercado, comunicação.”

Ela sabe o que fala. Nos últimos 5 anos, a profissional intermediou a aprovação de R$ 85 milhões de reais em incentivos e benefícios e promoveu a captação de R$ 33 milhões em linhas públicas para projetos de inovação.

Além disso, participa desde 2011 do movimento “Santa Catarina: estado máximo da inovação”, tendo ocupado, no período de 2013 a 2016, o cargo de Diretora Institucional para Relações com Universidades da RECEPETi (Rede Catarinense de Inovação).

Atualmente, além de consultorias em financiamento para inovação e implantação de cultura de inovação em empresas, responde pela Diretoria de Inovação da ACIB e é vice-presidente do Comitê de Inovação de Blumenau e do Fórum das Micro e Pequenas Empresas de Blumenau, sempre com o foco em inovação a fim de transformar a dinâmica econômica da região.

Para Ilisangela, a inovação deve facilitar a vida das pessoas, nas palavras dela:

“Deve fazê-las mais felizes. Isso é o que faz com que uma pessoa pague pelo seu produto. E o fato de o mercado ou a sociedade aderir ao seu novo produto/serviço/modelo é o que confirma a sua inovação. Se não houver adesão, é invenção ou apenas uma ideia.”

Nesta entrevista, ela vai ensinar um pouco como manter isso no foco das empresas e estar preparado para o futuro.

Leia a entrevista:

Qual a melhor definição de inovação?

Ilisangela Mais – Entre muitas definições de inovação que eu já ouvi, a que mais gosto é a seguinte: “Inovação é a criação e entrega de novo valor para o cliente no mercado, com um modelo sustentável para a empresa.”

Gosto muito dessa definição porque ela destaca dois pontos cruciais para a inovação, no meu ponto de vista: valor e modelo sustentável.

Alternativamente, outro dia ouvi uma boa definição: “inovação é a criatividade emitindo Nota Fiscal.”

É comum as pessoas pensarem que inovação é algo relacionado com tecnologia e startups, mas eu sempre faço questão de destacar: “inovação não pressupõe luzinhas piscando”. O que quero dizer com isso? Que inovar pode estar relacionado a implantar novos modelos de negócios, processos produtivos, estrutura organizacional, relacionamento com o mercado, comunicação.”

A pergunta básica é “cria valor para o meu cliente / usuário / a sociedade?”

Um exemplo que gosto muito de usar é o microcrédito. Foi um modelo transformador para muitas comunidades e está baseado em percepção da necessidade do mercado e não em recursos ou avanços tecnológicos.

Ilisangela Mais –  Então aproveitando o gancho: a inovação não acontece somente com startups? Pode comentar mais?

Não acontece somente em startups! Inovação acontece em qualquer lugar. Inclusive fora do ambiente empresarial. O foco é sempre em criar valor para os usuários. Isso pode ser numa cafeteria que cria produtos ou serviços exclusivos, por exemplo, na organização de eventos com formatos alternativos, na forma de organização de grupos com propósitos afins, e muitos outros casos.

As startups ganham bastante destaque na mídia porque muitas delas trazem modelos que impactam o dia-a-dia de forma muito significativa, como Uber, iFood, Netflix. E o conceito essencial de uma startup é ter um modelo que precisa ser testado; ou seja, sempre será algo que nos desafia a fazer diferente. Mas vejo muita inovação em ambientes bem variados.

Como uma empresa com décadas de fundação e história pode buscar a inovação? Existe alguma fórmula? Como começar esse processo de busca de inovação?

Ilisangela Mais –  Minha sugestão é sempre começar olhando para o seu cliente e entender o que nós realmente podemos resolver para ele.

E aí aparecem algumas questões importantes:

1 – Observar com muita atenção o seu cliente. Porque é possível que mesmo o cliente não tenha total clareza sobre a sua necessidade. Há situações em que você aprende mais observando a forma como o seu cliente interage com o seu produto ou serviço do que perguntando para ele.

2 – Não julgue as informações que obtiver do cliente. Respeite os seus interesses, necessidades e percepções. Não podemos partir do princípio de que nós sabemos o que é melhor para o nosso cliente.

3 – Desenvolva ou adapte seus produtos e serviços às reais necessidades e percepções de valor do cliente. Não tente fazer o seu produto caber na necessidade dele, pois isso não será sustentável ao longo do tempo.

Qual a principal característica da inovação?

Ilisangela Mais –  Quanto ao resultado da inovação, eu destaco “valor” e “conveniência”.

A inovação deve facilitar a vida das pessoas, fazê-las mais felizes. Isso é o que faz com que uma pessoa pague pelo seu produto. E o fato de o mercado ou a sociedade aderir ao seu novo produto/serviço/modelo é o que confirma a sua inovação. Se não houver adesão, é invenção ou apenas uma ideia.

Quanto ao processo, sempre destaco que, para ser reconhecido como um projeto de inovação, é preciso conter:

– Aprendizado no processo: se for apenas compra de tecnologia, a inovação está no fornecedor e não no comprador.

– Novas competências: todo projeto de inovação deve focar em entregar ao mercado competências que ela não detinha antes, seja na forma de produtos, processos, serviços ou modelos de negócios.

Como você analisa as empresas brasileiras no tocante a busca e inovação?

Ilisangela Mais –  Os empresários brasileiros estão sensíveis ao tema da inovação, mas ainda temos algumas dificuldades:

Muitas empresas promovem inovações incrementais de maneira permanente, mas não organizada. Ter um processo ajudaria a usar o esforço de inovação de forma mais estratégica.

As empresas grandes estão bem estruturadas, mas as pequenas e médias deveriam aproveitar melhor as redes, parcerias e associações para se atualizar sobre tendências e entender bem o mercado.

A criatividade e o estilo flexível dos brasileiros nos ajuda muito a encontrar caminhos, mas vejo que ainda há muito espaço para pensar a inovação como estratégia de transformar mercados e posicionar empresas.

Gostaria de ver mais empresas atuando de forma integrada com outras empresas e instituições, criando sinergia, aprendendo umas com as outras e gerando inovações mais significativas para o mercado.

Um projeto considerado de inovação mas já em operação consegue obter recursos de inovação?

Ilisangela Mais – Se o projeto já está em operação, é improvável que consiga recursos de inovação. Existe o momento certo para captar recursos, que é no início de um projeto. Mesmo empresas sem histórico podem acessar recursos, desde que atendam aos critérios dos bancos de fomento e estejam em fase de desenvolvimento do projeto.

Por outro lado, uma empresa que tenha investido milhões em um projeto super inovador não conseguirá acessar as melhores linhas se o processo de desenvolvimento já estiver finalizado.

Você pode comentar sobre linhas de financiamento para projetos de inovação? O que de importante as empresas precisam compreender nesse tema?

No Brasil, não conheço uma linha de financiamento mais vantajosa do que as linhas de inovação. Elas possuem taxas atrativas, longos prazos de carência e a possibilidade de potencializar os investimentos com alguns incentivos estaduais e federais, dependendo do tipo de projeto.

O governo tem noção de que os empreendedores sabem o que oferecer ao mercado e apoia com taxas subsidiadas. Mesmo empresas com caixa saudável deveriam aproveitar o momento da inovação para potencializar esses ganhos e também para ter tempo de investir no desenvolvimento de produtos e serviços sem comprometer o fluxo de caixa das operações.

Entrevista a Manoel Fernandes Neto

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