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Futuros que habitam em mim

brain on the background of a woman.

Nem todos os futuros estão “lá fora”, batendo na porta do tempo e nos impondo mudanças. Alguns já habitam silenciosamente dentro de nós — à espera de escuta, coragem e intenção que os façam emergir. Foi isso que aprendi quando estudei com Oliver Markley, um dos pioneiros dos Estudos do Futuro no mundo, durante meu mestrado na Universidade de Houston, a escola de foresight mais reconhecida do mundo.

Ao lado de disciplinas como pensamento sistêmico, estatística, sociologia, metodologias de projeção e prospecção de cenários, entre outras, tive o privilégio de estudar “Futuros Intuitivos”, uma disciplina rara que me ensinou a desenvolver a intuição.

Markley, além de futurista, psicólogo e engenheiro, foi o primeiro a propor, lá nos anos 70, que a imaginação fosse aplicada como ferramenta científica para explorar futuros possíveis e desejáveis. Ele desenvolveu os conceitos de imaginação cognitiva e intuição estruturada, que transformaram radicalmente minha forma de pensar e pesquisar o futuro. Eu os aplico há mais de 20 anos em workshops, estudos, consultorias e processos de mudança pessoal e organizacional.

A imaginação, como dizia Einstein, “é mais importante do que o conhecimento”. O mais importante cientista do século 20 já sabia da importância do que depois veio a se conhecer por imaginação cognitiva, uma função mental avançada que combina pensamento, emoção e percepção sensorial, permitindo simular cenários futuros e experimentar, com mente, corpo e alma, aquilo que ainda não aconteceu, mas que pode vir a ser, mediante a força do seu futuro desejável imaginado para o qual você se devota.

Estudos recentes publicados na New Scientist, edição de Maio 2025 demonstram que visualizações com intenção clara ativam os mesmos circuitos neurais de uma experiência real. Isso quer dizer que, ao imaginar um futuro com clareza e profundidade, podemos provocar reações emocionais, físicas e cognitivas reais, alterando inclusive nossa percepção de identidade e ampliando o campo de tomada de decisão.

Uma das ferramentas criadas por Markley é a Viagem no Tempo Mental, prática de visualização estruturada na qual acessamos estados expandidos de consciência para encontrar nosso “eu futuro”. Esse “eu” atravessando os dilemas do presente, guarda mensagens intuídas, conselhos e caminhos que nossa mente racional, sozinha, não acessa. No contexto organizacional, nós futuristas utilizamos para medir o efeito colateral de certas mudanças e ajustar estratégias.

Essa metodologia me acompanha desde 2001. Já a apliquei com centenas de pessoas e organizações — de executivos em transição a jovens estudantes buscando propósito, passando por empreendedores, gestores públicos, educadores e ativistas sociais. E os resultados são sempre surpreendentes em pequenos ou grandes grupos.

Lembro de uma jornalista que, após uma experiência imersiva colocou em ação o desejo de mudar de país e seguir um chamado que há anos silenciava. Outro, um publicitário cansado da profissão, após visualizar com nitidez o cheiro de terra molhada em sua cena de futuro, comprou um terreno no interior de Sergipe e fundou um centro de práticas holísticas. Já houve quem reorientasse sua carreira, mudasse de área, ressignificasse relações ou se reconectasse com talentos esquecidos.

Porque a potência dessa abordagem não está em prever, mas em sentir e ativar futuros emergentes que alinham visão, propósito e ação estratégica. Que combinam razão com sensibilidade, e análise com intuição.

Existem dois tipos de mudança: a que nos acontece (de fora para dentro: crises, tecnologias, novas profissões) — e a que fazemos acontecer (de dentro para fora: valores, visões, intuições). A intersecção entre essas duas direções é onde mora o futuro verdadeiramente transformador — aquele que não apenas nos atravessa, mas que somos capazes de criar.

Recentemente, durante uma aula online sobre imaginação prospectiva, apliquei um exercício de imaginação cognitiva. Mesmo no ambiente digital, que sempre impõe desafios à conexão profunda, os resultados foram emocionantes. Após a vivência, recebi mensagens como estas:

“Cada escola, empresa, comunidade em cada lugar do mundo seria um lugar de transformação ativa após te escutar. Tua paixão pela imaginação ativa, presente e viva ativou novas imagens potentes aqui dentro. Tua aula não sai de mim! Grudou, ficou, alargou meus mundos.” Leticia Davolli

“Que privilégio estar nessa aula conduzida por você. Foi incrível! Você é uma inspiração. Gratidão por nos levar a futuros tão nobres.” Gloria Copello

“Incrível como a sua aula nao sai da minha cabeça!” Marcia F. Fornari

Depoimentos como esses tocam meu coração, porque expressam aquilo que está no centro do meu trabalho: criar espaço para que as pessoas se encontrem com futuros que já as habitam. Futuros que não vêm dos relatórios de tendência, mas de sonhos encobertos pelos detritos de uma sociedade distópica. Não vêm das métricas, mas das imagens simbólicas que carregamos dentro de nós.

Aprendi que a intuição pode ser ensinada. E que há uma diferença profunda entre a mente racional, que serve para entender o passado e organizar o presente, e a mente intuitiva que detecta mais facilmente o desconhecido. Quando uma pessoa aprende a ativar esse canal sutil, ela ganha agilidade, presença e capacidade de inovar com alma.

A matéria-prima fertilizadora da criação de futuro e é a imaginação, dom divino com que somente nós humanos fomos concebidos. Quando usada com intenção, ela pode reduzir o medo da incerteza, fortalecer a intuição, identificar propósitos e desbloquear a criatividade.

A matéria-prima fertilizadora desses resultados é a imaginação, dom divino com que fomos concebidos. Quando usada com intenção, ela pode reduzir o medo da incerteza, fortalecer a intuição, identificar propósitos e desbloquear a criatividade.

Essa não é uma abordagem esotérica. Trata-se de neurociência aplicada ao foresight. A ciência já comprovou (leia a New Scientist de maio, 2025) que exercícios mentais com imagens claras influenciam decisões, reduzem ansiedade diante do incerto e ampliam repertório criativo. Além disso, mostram que a imaginação não diminui com a idade — ela se transforma, tornando-se mais simbólica, complexa e orientada por propósito.

Em tempos de múltiplas crises precisamos mais do que adaptar modelos. Precisamos acessar recursos de Reimaginação Radical propostos no livro de Luciana Bazanella e Vanessa Mathias

Executivos, líderes e empreendedores precisam aprender a fortalecer seu “tônus imaginativo”, assim como fortalecem seus músculos nas academias de fitness. Organizações que sobrevivem são aquelas que não apenas antecipam o futuro — mas que têm coragem de antecipá-lo em sintonia com o compasso do mundo que precisa se regenerar a partir de nossa fertilidade criativa.

Se você, sua equipe ou organização estão atravessando transições — na carreira, no modelo de negócio ou na própria identidade, precisa experimentar essa abordagem. Ao longo de duas décadas, já conduzi processos transformadores com grupos diversos em vários países. E posso afirmar, com serenidade e paixão: o futuro mais poderoso é aquele que você faz acontecer.

Postado originalmente no Linkedin Rosa Alegria – Futurista

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