Entrevista: Dr. Daniel Bruns fala sobre medicina fetal.

O que antes seria impensável em termos de tratamento intrauterino hoje já faz parte do dia a dia do atendimento médico.

A medicina fetal avança e trata varias patologias. Nesta entrevista exclusiva para revista Nice, Dr. Daniel Bruns, da Clínica Bruns, de Blumenau, fala um pouco sobre este “milagre” que transforma vidas ainda em suas gestações.

“A grande vantagem é o diagnostico precoce e preciso das patologias fetais. Isso permite aos médicos e à paciente se prepararem para receber o bebê com todas as particularidades que ele pode ter” diz Dr. Bruns.

drdanielbrunseequipeNesta entrevista, o especialista fala sobre os avanços científicos da medicina fetal, demonstra exemplos de procedimentos e o envolvimento da clínica que leva seu nome neste atendimento:

Como está hoje o desenvolvimento da medicina fetal no Brasil?

Hoje, a medicina fetal no Brasil está bastante avançada. Nos últimos 10 anos, houve um desenvolvimento muito grande dos aparelhos de ultrassom; com isso, a qualidade do exame melhorou muito. Hoje, podemos estudar estruturas fetais que jamais imaginamos que poderíamos identificar. Diagnosticamos a cada dia mais, melhor e mais cedo.

Quais as vantagens da sua utilização e o que pode ser conquistado por meio desta especialidade?

A grande vantagem é o diagnostico precoce e preciso das patologias fetais. Isso permite aos médicos e à paciente se prepararem para receber o bebê com todas as particularidades que ele pode ter. Seja um problema estrutural, como uma malformação, ou um problema genético.

Outra vantagem do desenvolvimento constante da medicina fetal é a busca incessante do entendimento da avaliação da vitalidade fetal. Para os fetos prematuros, cada dia dentro do útero tem um impacto importante na maturação dos seus órgãos e sistemas. Por isso, é importante saber o momento adequado para se interromper a gestação nos casos de sofrimento fetal crônico e restrição de crescimento. O papel da medicina fetal é avaliar a vitalidade fetal e definir o melhor momento para interromper a gestação, causando o menor número de sequelas fetais com a melhor qualidade ao nascimento.

Você pode nos contar algum caso clínico e o resultado alcançado?

Na clinica, já tivemos 4 casos de crianças com mielomeningocele (defeito aberto da coluna) que foram operadas. Todas tiveram uma boa evolução e não precisaram colocar válvula na cabeça por causa da hidrocefalia.

Já tivemos, também, dois casos de gêmeos com síndrome de transfusão feto-fetal que fizeram cirurgia a laser, que teve como resultado os dois fetos vivos e bem.

Quais os avanços da cirurgia da mielomeningocele ?

A correção intrauterina da mielomeningocele revolucionou o tratamento deste tipo de patologia no mundo. A cirurgia, que já teve sua indicação questionada no passado, hoje é consenso como o melhor tipo de tratamento, pois diminui a necessidade de cirurgias após o nascimento e melhora o desenvolvimento cognitivo das crianças operadas.

Das crianças que são tratadas fora do útero, 80% tem a necessidade de colocação de uma válvula para tratar a hidrocefalia (acumulo de líquido no cérebro, que acaba elevando a pressão intracraniana). Nos casos operados intraútero, esse número é inferior a 40%. Isso faz toda a diferença na vida dessas crianças, pois diminui a necessidade de internações e procedimentos cirúrgicos, diminui o risco de infecção, etc. Há também uma melhora da movimentação dos membros inferiores, mas esse ganho é secundário. Mais importante que isso é a diminuição da hidrocefalia do feto e o menor índice de colocação de válvulas

Como é o envolvimento da Clínica Bruns com este procedimento?

A Clinica faz parte da Rede Gestar de medicina fetal, que é uma rede de especialistas em medicina fetal de todo o Brasil, e conta com o apoio de cardiologistas pediátricos, geneticistas e médicos especializados em medicina fetal e cirurgia fetal que discutem os casos mais complicados e trocam informações sobre as patologias em seus consultórios, nas suas cidades. Isso é muito importante se levarmos em consideração que a medicina fetal frequentemente trata de patologias raras e de difícil diagnóstico.

Além disso, participamos do grupo de cirurgia fetal do Hospital do Coração (HCor), onde mensalmente participo ativamente e acompanho pacientes e fetos submetidos a cirurgias fetais vindos de todas as partes do Brasil. Essa experiência ímpar permite criar alicerces importantes para montar uma equipe preparada para realizar estes procedimentos em Santa Catarina.

(Entrevista a Manoel Fernandes Neto)

Saiba mais:
http://www.clinicabruns.med.br/

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