Gica Trierweiler Yabu | Acredito que uma filha acolhida é uma filha capaz de assumir suas escolhas e lidar com elas.
Se pudesse voltar no tempo, daria um abraço na mãe dessa menina e diria pra ela olhar pra filha. Olhar do jeito que a gente aprende na terapia: deixando as expectativas e julgamentos em ponto morto, anulando o ruído ao redor. Olhar até sentir o que pulsa lá dentro do outro e usar essa conexão para assistir o brotar de algo maravilhoso. Pra mim, essa é a maior e mais complexa missão materna: a de olhar, ouvir, sentir e assistir minha filha para que sua exuberância se manifeste no mundo.
Exercer essa função diariamente consome muito, principalmente porque ela se sobrepõe ao prático-higiênico do dia-a-dia de alimentar, levar para a escola, arrumar isso, buscar aquilo, dar banho, responder duzentas e catorze perguntas por minuto e você sabe mais o quê. Isso sem contar o trabalho da mãe que também é profissional e esposa e motorista e cidadã e mulher e amiga e bla bla bla. Mas não importa: nada disso é mais importante que guiar minha filha no seu desenvolvimento pessoal.
Acredito que uma filha acolhida é uma filha capaz de assumir suas escolhas e lidar com elas. Acredito que uma filha acolhida é uma filha que aprende a se amar e, por isso mesmo, aprende a amar os demais – especialmente aqueles que a respeitam por sua grandiosidade humana. Acredito que uma filha acolhida jamais vá sofrer de distúrbios alimentares, muito menos será menor que vícios. Acredito que uma filha acolhida queira preservar sua vida.
Amy, chorei uma porção de lágrimas de mãe por você. Deixo meu abraço póstumo e peço infinitas desculpas por ter engrossado o coro dos imbecis que não fizeram absolutamente nada por você enquanto havia tempo.